Há um mês, eu celebrava uma grande alegria com a Comunidade Canção Nova: a ordenação sacerdotal dos nossos irmãos. Tudo foi maravilhoso, um momento único para os novos padres e para nós que celebramos com eles. Nessa mesma alegria e festa, fui com outros irmãos seminaristas para a terra natal do neo-sacerdote Edison, uma cidade do interior do Rio de Janeiro, onde ele celebraria sua primeira Missa.
Saímos bem cedo, por volta das 5h. Primeiro, rezamos na viagem para Deus nos proteger; depois, cada um fez o que achava mais oportuno. Eu, por exemplo, fui adiantando algumas leituras da faculdade. Depois de um certo tempo, fizemos uma pequena parada para irmos ao banheiro e tomar um café. No entanto, no meio da viagem, aconteceu um fato que marcou nossa vida. Tudo aconteceu bem rápido. Era quase meio-dia quando fomos pegos de surpresa. O carro virou conosco e batemos num caminhão. Não é o caso de entrar em detalhes, mas foi uma fatalidade! Lembro-me de tudo, porque estive consciente o tempo todo.
Um dos nossos irmãos, Tiago, fez a sua páscoa e deixou saudade em todos nós, além de um belo testemunho de vida. O William está se recuperando lentamente, pois sofreu uma pancada muito forte, assim como o Felipe. Todos nós estamos ainda num processo de recuperação.
O que eu tiro de todo o acontecimento? Três aprendizados:
a) “pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e os injustos” (Mt 5,45b). Não é porque seguimos Cristo de perto, que somos imunes aos acontecimentos trágicos. Temos um Deus que é solidário ao nosso sofrimento, que, de certo modo, sofre conosco e jamais nos abandona. Faz parte da humanidade o sofrimento, embora tentemos atualmente aboli-lo. O sofrimento nos faz crescer se soubermos lidar com ele.
b) “Morrer na esperança e confiando em Deus! Mas confiar em Deus começa agora, nas pequenas coisas da vida, também nos grandes problemas: confiar sempre no Senhor” (Papa Francisco). Confiar, viver sempre em Deus e morrer na esperança. Não sei quando farei minha páscoa, mas devo estar atento. Sem desesperar, devo viver bem cada dia. Olhar também para cada pessoa com o olhar de Cristo, isto é, dando a ela a atenção necessária. Cada pessoa é única e não pode passar despercebida por mim.
c) Nunca me senti só. Neste ano de 2016, estou me preparando para meu compromisso definitivo na Canção Nova. Depois desse trágico acidente, vi o quanto amo meus irmãos de comunidade, especialmente os seminaristas. Também o quanto sou amado pela minha comunidade. Senti o humano amor de Deus em cada pessoa; e se havia dúvidas no meu coração, agora não há mais. Sou Canção Nova para sempre! Agradeço também ao povo de Deus, que nos sustentou e sustenta com suas orações. Muito obrigado por tudo!
Enfim, faz um mês que vivi um acidente no trânsito e ainda estou me recuperando. Mas já posso dizer que Deus me deu a graça de nascer novamente. Ficaram marcas em mim, especialmente uma cicatriz na cabeça, mas esta me recordará que eu sou “um milagre”, além de ser marca de amor e gratidão.
Ricardo Cordeiro
Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.